Serra do Cipó

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Sinos de Aldebarãn 8c

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Quanto às proteções fixas, a recomendação da UIAA é de 2500kgf,
Ué!! Grampo P suporta apenas 1500kgf...

Salve amigos do climb!!

Gostaria de agradecer a diversas pessoas que vem me apoiando e me incentivando a levar o Pbolt adiante.

Para idealizar um grampo que realmente atendesse o que tem que ser seguido em questões de ÉTICA e SEGURANÇA, tive que suar a camisa e estudar bastante. Foram várias tentativas até chegar ao Pbolt.

Pensei em vários designs. Claro que o que me veio na cabeça primeiro foi tentar fazer um grampo inteiro e entortar a ponta dele até que a ponta encostasse no seu corpo e reforçar com solda, rsrsrs... Meu irmão, tenta entortar uma barra de aço ½” (meia polegada)! Claro que desisti na primeira marretada, rsrs, a ponta do aço deu uma ligeira empenada, ali mesmo já vi que não seria simples melhorar o Grampo P. Existe a técnica de Austêmpera, é uma forma de tratamento térmico de têmpera indicada para aços de ALTO TEOR DE CARBONO, obtendo-se ao final do processo um material com DUREZA MAIS BAIXA.

Para aço 1020, essa técnica já compromete a credibilidade do aço por conta de seu baixo teor de carbono, já o aço 1045 pode ser temperado e beneficiado, porém essa é uma técnica que exige uma certa arte. Tentei entortar o aço 1020 fazendo uma espécie de ferramenta para entortar o aço usando alavanca, ( ahh garoto esperto..), Véio, na boa!!...desiste de entortar isso. Pensei: “Acho que vou fazer grampo a moda antiga, barra de meia e olhal de 3/8 soldado, e pronto, todo mundo usa desse mesmo, assim posso vender pois o grampo é comercializado normalmente e abrir minhas vias com meus próprios grampos!!” Foi desse pensamento que milhares de perguntas me vieram à cabeça.

Se eu quero fabricar grampos, porque fazer igual aos outros sabendo que esse não é o tipo de proteção fixa mais indicado para escalada? E a segurança, já que sabemos que o grampo não aguenta mais que 1500kgf?* Pra que fabricar? Porque não fazer algo que seja seguro e comercializar um produto que futuramente possa ser certificado?

O grampo P até certo ponto é seguro, mas fizeram testes e viram que são mais fracos que as chapeletas, então porque ele é liberado em mercado para escalada? Por que as lojas e os próprios escaladores comercializam um produto que não é certificado e que colocado à prova não chegou nem perto do que a UIAA exige como um padrão?

Não estou dizendo que os grampos usados na escalada não são dignos de serem usados, prefiro muito mais um grampo do que uma chapeleta. Um dos maiores problemas que estão sendo encontrados nos grampos é que existem muitas pessoas fabricando grampos, alguns de qualidade e outros já nem tanto. Também não estou dizendo que o P distribuído largamente no Brasil deverá ser parado de usar, quem sou eu pra dizer isso? Eu mesmo uso qualquer tipo de proteção, grampo P, chapeleta, o importante é as proteções estarem bem instaladas.

Se ao rapelar em uma chapeleta, você constatar que tem uma porca, já pode ficar ligado, quem instalou essa proteção não colocou parabolt expansivo, usou os spits. (abaixo tem uma explicação sobre parabolts expansivos e spits). Agora se tiver um parafuso prendendo a chapeleta pode rapelar com um caminhão nas costas que ela aguenta, pois esse tem parabolt expansivo.

Temos também chapeletas sendo fabricadas no Brasil, algumas vem com suas especificações e marcas, e outras vem lisas. Outro problema de segurança que vejo nas chapeletas são as argolas, que tem a sua junção soldada. A resistência das chapeletas com argola é de 1800kgf, isso dito por fabricantes que testaram o seu produto. Tem chapa sendo fabricada no Brasil e indo direto para a mão do escalador, e aí, vai confiar na solda do olhal como? Quanto às proteções fixas, a recomendação da UIAA é de 2500kgf, independente de ser parada ou não.

Agora se liga na questão: a UIAA é a organização que representa os interesses de alpinistas ao redor de todo o mundo, a organização atualmente agrega 88 associações integrantes de 76 países diferentes, sendo todas de importância nacional. A UIAA possui sede em Berna e é reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional como a entidade máxima a nível global em relação ao alpinismo. Se essa entidade recomenda que as proteções fixas de escalada devem suportar 2500 kgf, então porque usar proteções fixas que estão abaixo do que é recomendado por essa entidade de grande respaldo? Será que o esporte precisa de uma organização melhor em relação a segurança de proteções fixas no Brasil?

As respostas para essas perguntas é bem simples, BOM SENSO, vou explicar melhor.
Seguindo o raciocínio da pior queda, dentro do padrão UIAA para cordas dinâmicas, a maior força permitida no corpo do escalador é de 1200kgf, o que resultaria na última proteção uma força de 2400kgf. O Grampo P soldado aguenta 1500kgf, isso é o valor de ruptura (quebra do grampo). Em uma chapeleta ainda dentro desse raciocínio, tem uma margem de segurança de 100kgf. E o bom senso? É seguido da seguinte maneira:

Se o corpo de um escalador aguenta até 1200kgf, significa que você se quebra e o grampo apenas entorta, é difícil acontecer uma queda que passe de 600kgf por isso não se segue a recomendação da UIAA. Em relação aos equipamentos, a própria corda suporta até 1200kgf (isso depende do fabricante) e o equipamento móvel suporta até 1400kgf. Tudo isso é bom senso, pois toda a força de impacto é absorvida entre Bauderier, corda, costuras, fitas, mosquetões e grampos.

As chapeletas realmente são mais seguras em termos de especificações e normas, mais nos pegam onde somos mais fracos, na falha humana, isso ninguém está livre. Por isso sempre atenção na hora de realizar o procedimento de descida.

Mas também as chapeletas não são a inovação técnica em proteções fixas, as chapeletas não vem com Parabolt, e isso faz com que muitas pessoas comprem chumbadores do tipo spits sendo que o recomendado pela UIAA são os chumbadores do tipo expansivo.

Existe dois tipos de chumbadores que são eles:

Parabolt tipo Spits: ( não recomendado)



Parobolt tipo expansivo: (recomendado)



Bom, depois das tentativas de entortar o aço, resolvi colocar a cabeça para funcionar, e me veio a ideia de desenvolver um grampo que fosse seguro como as chapeletas em questões de especificações e normas, e tivesse a segurança do grampo P de efetuar um rapel e ter mais espaço para manusear mosquetões e fitas.

Veio a ideia de fundir um olhal com parabolt e aos poucos fui descobrindo algumas de suas vantagens em relação às chapeletas e aos Ps. São elas:

Pbolt Vantagens
Pbolt desvantagens
Grampo P vantagens
Grampo P desvantagens
Chapeletas vantagens
Chapeletas desvantagens
Já vem com parafuso e Parabolt expansivo


Possível rapelar diretamente pelo olhal
Difícil instalação( tem que marretar )
São homologadas
Não é possível rapelar direto pelo olhal, sendo necessário o abandono de equipamentos, manobra que não aceita erros pois é fatal
Possível rapelar diretamente pelo olhal

Mais barato

Suportam o que é recomendado pela UIAA 2500kgf
São mais caras, e não vem com parabolt.
Fácil de instalar e Fácil manutenção, é possível fazer toda a remoção do Pbolt e aproveitar o mesmo furo (mínimo impacto)

Fácil visualização em caso de corrosão
Manutenção complicada, as vezes é preciso quebrar o grampo velho e fazer um novo furo na rocha.
Fácil de instalar e fácil manutenção, mas não é possível reutilizar o mesmo furo na maioria dos casos
Difícil identificar corrosão,
Fabricado por Máquinas, passa por uma inspeção de qualidade usando ferramentas de medição, (Paquímetro Digital e calibradores)


Contem solda

não é possível reutilizar o mesmo furo depois de uma manutenção, se o bolt estiver ruim é preciso um novo furo na rocha
Fácil visualização em caso de corrosão







Eu não sou orgulhoso, mas não descobri nenhuma desvantagem em relação ao Pbolt, a não ser a falta de testes. Eu tenho certeza que nessa configuração o Pbolt vai superar as chapeletas, só precisamos dos testes em Laboratório para saber qual a sua carga de ruptura.

Estamos vendo uma cultura que não estamos acostumados se instalando aos poucos em nossa escalada, como os “Grampos colados”, claro que cidades onde a maresia é um dos grandes vilões para as proteções fixas, merecem grampos mais resistentes, mas podemos criar as nossas próprias alternativas para isso, sem recorrer a uma cultura estrangeira, nós temos a nossa cultura de usar Grampos Ps, inventado por um Brasileiro muito antes de terem sido inventadas as chapeletas e agora temos mais uma alternativa de cultura própria, um melhoramento do que já era bom.

Quero aproveitar para fazer um apelo, tenho recebido mensagens de pessoas que querem saber como eu faço o Pbolt. Galera, o Pbolt é usinado, quero deixar bem claro isso. Pesquisem o que é usinagem nos buscadores, melhor ainda se for youtube. Copiar é fácil, se quer fazer faz melhor tentem melhorar o Pbolt, e não copiar, como eu disse, teve estudo no projeto do Pbolt, tem que seguir uma ÉTICA. Não é sair pegando qualquer olhal e parafusando na rocha, queremos vias sim, mais a ÉTICA e o MÍNIMO IMPACTO são importantes e precisamos seguí-los.

São 100 anos de montanhismo, 100 anos de cultura genuína, que pode se perder em chapeletas e grampos químicos. Só depende de nós.

Claro que às vezes é melhor aceitar o que temos do que tentar inventar, garanto que hoje é muito melhor escalar com corda dinâmica do que com corda de sisal. Quero ver se alguém tem coragem de olhar pra sapatilha e dizer: Ah, hoje eu vou escalar com bota sola de pneu!!rsrs.


Mais uma vez MUITO OBRIGADO PELA FORÇA E ENERGIA QUE VENHO RECEBENDO DA GALERA.

Abraços e Boas Escaladas

Sergio Ricardo

Estudo sobre as Proteções Fixas Utilizadas no Brasil (Grampos), Marcelo Roberto Jimenez e Miguel Freitas, projeto do Curso de Formação de Guias (CFG 1998-1999) do Clube Excursionista Carioca.

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